03 - Música Errante: o jogo da improvisação livre e suas relações com a composição

A essência da improvisação livre é o próprio ato de criação artística: a busca pelo novo a cada momento, a intensificação do presente. Trata-se de uma música experimental que supõe um “mergulho” no sonoro, livre das restrições idiomáticas.
Baseia-se na ideia de que o músico instrumentista pode ser um artista criativo. Ao mesmo tempo, é uma construção coletiva e interativa, em tempo real e por isso pode ser pensada como uma espécie de jogo ou conversa.
Ao contrário da improvisação idiomática em que o jogo é regido pelas regras estabelecidas no contexto de sistemas complexos socialmente estabelecidos (como o Blues, o Jazz, a música Flamenca, etc.), na improvisação livre, a prática musical é baseada na dinâmica molecular1 do som pré-musical. É uma prática em que os improvisadores interagem entre si e com a materialidade do som. Neste sentido, a
improvisação livre pode ser pensada enquanto uma atividade revestida de uma fisicalidade quase pura (no que diz respeito à dimensão performática), sem a mediação de qualquer gramaticalidade abstrata pré-estabelecida ou como uma espécie de música concreta2, pois baseia-se em uma prática experimental e empírica onde os músicos entram em contato direto com o som.
A preparação de um ambiente propício para as práticas da improvisação livre supõe uma série de pressupostos dentre os quais se destacam a ideia de intencionalidade ou desejo, a disposição para a criação coletiva (que supõe a interação), a disponibilidade de enfrentar riscos e um tipo de escuta intensificada.
O objetivo da oficina é introduzir os participantes à prática da improvisação livre enfocando a criação individual e coletiva e os vínculos da prática instrumental com a criação. Uma ênfase especial será dada à experimentação. Por isso, os conteúdos serão abordados tanto sob o ponto de vista teórico quanto prático. Assim, paralelamente às discussões teóricas e à escuta de exemplos de práticas de improvisação livre os alunos terão a oportunidade de experimentar as diversas formas de se inserir neste tipo de performance utilizando seus instrumentos.
A ideia é, a partir das práticas desenvolvidas com este grupo, refletir sobre as potencialidades da improvisação enquanto forma de conhecimento e enquanto ferramenta para o desenvolvimento da criatividade. Partimos da noção de que a educação do músico deve habilitá-lo a exercer criativamente esta linguagem – ser um produtor – e não somente a reproduzir certo repertório tradicional.
Bibliografia
Costa, Rogério. Música Errante: o jogo da improvisação livre, Editora Perspectiva,
São Paulo, 2016.

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